Lusitânia, Pátria e Santa Cruz: A saga da primeira travessia aérea do Atlântico Sul.

A primeira travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída com sucesso pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho (1869–1959) e Sacadura Cabral (1881–1924) em 1922, durante as comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil. A viagem começou em Lisboa em 30 de março daquele ano, a bordo de um hidroavião monomotor Fairey F III-D, equipado com motor Rolls-Royce e batizado Lusitânia (visto na cédula acima). Sacadura Cabral era o piloto, enquanto Gago Coutinho atuava como navegador. Coutinho utilizou na travessia um horizonte artificial adaptado ao sextante, instrumento por ele aperfeiçoado para medir a altura dos astros com precisão — inovação que revolucionou a navegação aérea. O percurso incluiu escalas nas Ilhas Canárias e na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, antes de alcançarem águas brasileiras. Em 18 de abril, ao amararem próximo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, um dos flutuadores se perdeu, danificando o Lusitânia. Os aviadores foram recolhidos por um cruzador da Marinha Portuguesa e conduzidos a Fernando de Noronha. Para permitir a continuação da viagem, o governo português enviou por navio um segundo hidroavião Fairey, batizado Pátria. Em 11 de maio, eles decolaram novamente, mas uma pane no motor obrigou a um pouso de emergência; ambos foram resgatados por um cargueiro que passava pela região. Um terceiro aparelho, o Santa Cruz, foi então enviado. Deste ponto em diante, o voo prosseguiu sem incidentes: partindo das águas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, os aviadores fizeram escalas em Recife, Salvador, Porto Seguro e Vitória, até chegarem à Baía de Guanabara em 17 de junho de 1922. Aclamados como heróis por onde passaram, Coutinho e Cabral concluíram com êxito a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada exclusivamente com navegação astronômica. Embora os imprevistos tenham estendido a jornada a 79 dias, o tempo efetivo de voo somou pouco mais de 62 horas, cobrindo 8.383 km.