O quetzal, além de dar nome a uma moeda, é uma das aves mais belas do mundo e tem um passado de lendas e símbolos espirituais!

A cédula guatemalteca vista acima reúne duas das imagens mais emblemáticas da identidade do país: o quetzal e o guerreiro maia Tecún Umán. O quetzal, ave nacional desde 1871 e cujo nome batiza a moeda do país desde 1925, sempre foi celebrado por sua plumagem multicolorida — com predominância do verde iridescente e do carmim — e pela longa cauda dos machos, capaz de alcançar até 60 centímetros. Sua elegância em voo e sua raridade fizeram com que diversos povos mesoamericanos a elevassem ao domínio do sagrado. Entre os astecas, a ave era associada a Quetzalcóatl, o deus do vento e do ar; entre os maias, a Kukulkán. Ambas as divindades, representadas como a “serpente emplumada”, personificavam a ligação entre o mundo terreno e o espiritual, e suas penas eram tão preciosas que apenas sacerdotes e governantes podiam usá-las. Essa simbologia ganha novo significado quando a figura de Tecún Umán — herói nacional e um dos últimos líderes maias das terras que hoje formam a Guatemala — aparece ao lado do quetzal na cédula. Segundo a tradição, durante a invasão espanhola de 1524, o conquistador Pedro de Alvarado enfrentou Tecún Umán em combate. Narra a lenda que um quetzal, protetor do povo maia, atacou furiosamente o capitão espanhol; e que, no momento em que o golpe fatal atingiu o guerreiro, a ave silenciou e pousou sobre seu peito ensanguentado. Ao velar seu corpo durante a noite, o peito do quetzal — antes verde reluzente — teria adquirido uma mancha carmim, símbolo eterno do sangue maia derramado. Assim, a cédula não apenas exibe dois ícones culturais, mas entrelaça suas histórias em uma única narrativa: a do quetzal como emblema de liberdade e espiritualidade, e a de Tecún Umán como representação da resistência maia diante da conquista espanhola. Juntas, essas imagens formam um poderoso retrato da memória e da identidade guatemaltecas.