São Martinho. De soldado do Império Romano à soldado da fé cristã.

Três anos após o imperador romano Constantino promulgar em 313 o Edito de Milão, que concedeu aos cristãos liberdade de culto, nascia na cidade de Sabária, atualmente na Hungria, Martinho de Tours (316-397), que viria a ter um papel fundamental no impulsionamento de uma maior cristianização da Europa. Filho de uma família romana não cristã, por curiosidade começou a frequentar uma igreja cristã, o que o fez despertar para a fé cristã quando ainda menino. Contra sua vontade, seu pai o alistou como soldado do exército romano com o intuito de afastá-lo da igreja. Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto, provavelmente por volta do ano 337, na cidade hoje conhecida como Amiens, no norte da França. Dizem os relatos que um mendigo que tiritava de frio pediu-lhe uma esmola e, como não tinha, Martinho de Tours cortou seu próprio manto com sua espada, dando metade dela ao pedinte. Durante a noite, o próprio Jesus lhe teria aparecido em sonho, usando o pedaço de manta que ele dera ao mendigo e lhe agradecendo por tê-lo aquecido do frio. Desta noite em diante, Martinho decidiu deixar as fileiras militares para dedicar-se à religião, tornando-se monge. Em 361, aos 45 anos de idade, Martinho construiu o primeiro mosteiro da França e da Europa ocidental para receber jovens religiosos que buscavam sua orientação. Sua vida a partir de então foi uma luta contra o paganismo e em favor do cristianismo. Aclamado bispo da cidade de Tours aos 55 anos, ele não abandonou sua peregrinação apostólica, continuando a visitar paróquias, zelando pelo culto cristão e exercendo exemplarmente a caridade até sua morte aos 81 anos de idade. Venerado como São Martinho de Tours, tornou-se o primeiro Santo não mártir a receber culto oficial da Igreja e tornou-se um dos Santos mais populares da Europa medieval. Uma basílica foi construída no local de sua tumba na cidade de Tours. Durante as guerras religiosas francesas, a basílica foi saqueada pelos protestantes huguenotes em 1562, e durante a Revolução Francesa ela foi desconsagrada, usada como estábulo e, em seguida, totalmente demolida. Suas pedras lapidadas foram vendidas em 1802, depois que duas ruas foram construídas no local para garantir que a abadia não fosse reconstruída. A tumba de São Martinho só foi redescoberta em 1860, o que ajudou a fazer renascer a devoção pelo santo e a dar início a construção de uma nova basílica, iniciada em 1886 e consagrada em 1925.