O colapso de uma barragem e a queda de um império.

A barragem vista nesta cédula chama-se Marib e foi construída nos anos 1980 no vale de Dhana no Iêmen. Mas perto dela repousam as ruínas de uma outra grande barragem de mesmo nome, considerada uma das maiores maravilhas da engenharia do mundo antigo. Evidências arqueológicas apontam que a antiga Grande Barragem de Marib foi construída em torno de 1700 aC. e, enquanto existiu, transformou o deserto em um oásis, permitindo a irrigação de mais de 100 km2 de solo arenoso em torno da antiga cidade de Marib, então a maior cidade do sul da Arábia e sede do poder do Reino de Sabá, cuja lendária rainha, a Rainha de Sabá, teria visitado o rei Salomão em Jerusalém com uma caravana de valiosos presentes em ouro e especiarias. O reino de Sabá se fez rico através do comércio ao longo da Rota das Especiarias entre o sul da Arábia e o porto de Gaza no Mar Mediterrâneo. Marib comercializava dois produtos raros, caros e altamente apreciados no mundo antigo - as resinas aromáticas olíbano e mirra. Elas eram usadas pelos egípcios nos seus embalsamentos, pelos chineses como remédio, e eram queimadas pelo seu agradável aroma em templos e cortes imperiais por todo o mundo antigo conhecido. Para possibilitar a agricultura no deserto, os sabeus construíram uma extensa rede de irrigação e, no centro deste sistema, estava a Grande Barragem de Marib. Entretanto, por volta de 4 d.C., Marib perdeu seu mercado para a crescente fé cristã, que nos seus primeiros anos proibiu o uso do olíbano por causa de suas associações com cultos pagãos. As sofisticadas técnicas de engenharia hidráulica pelas quais os sabeus eram famosos foram lentamente esquecidas e a manutenção da barragem tornou-se cada vez mais difícil. Consequentemente, a partir de meados do século V, a barragem começou a sofrer rupturas regulares, até que no ano 570 d.C., ela cedeu pela última vez. A Grande Barragem de Marib, que uma vez tornou o deserto fértil e possibilitou o florescimento da região, caiu em ruínas. O seu rompimento pode ter ocorrido ou por fortes chuvas ou por um forte terremoto, embora, segundo o Alcorão, o colapso foi um ato de Deus ao punir os sabeus por sua ingratidão. A moderna barragem é hoje utilizada apenas para coletar e distribuir água para a população.